Nearshoring, friendshoring e reshoring: o que são e quais as suas vantagens

André Themudo | BlackRock

Líder dos segmentos de Wealth e Asset Managers na Península Ibérica
Desenvolve relações com gestores de ativos espanhóis, portugueses e de Andorra, bancos privados e de retalho, family offices e plataformas de distribuição. Isto inclui a distribuição de Mutual Funds, Estratégias de Indexação e Soluções de Investimento para clientes de wealth.

Janeiro de 2025 por André Themudo

Estes conceitos integram um conjunto de práticas empresariais destinadas a otimizar custos e aumentar a eficiência operacional, tendo vindo a ganhar terreno à medida que as empresas procuram melhorar os seus processos. Mas em que é consistem exatamente?

Os conceitos de nearshoring, friendshoring e reshoring integram um conjunto de práticas empresariais destinadas a otimizar custos e aumentar a eficiência operacional. Trata-se de estratégias de terceirização que têm vindo a ganhar terreno à medida que as empresas procuram melhorar os seus processos e responder aos desafios das cadeias de abastecimento globais.  

O nearshoring: vantagens e desafios

O nearshoring consiste na transferência de processos de produção ou serviços para um fornecedor localizado numa região geograficamente próxima, geralmente dentro do mesmo continente ou em países com fusos horários semelhantes. Esta abordagem difere do offshoring, que consiste em subcontratar para regiões mais distantes, onde os custos de mão de obra são tendencialmente mais baixos, mas onde as diferenças culturais, linguísticas e horárias podem constituir barreiras significativas. O conceito por trás do nearshoring baseia-se na limitação das complexidades associadas a longas distâncias e na melhoria da coordenação entre as empresas que contratam e os seus fornecedores. O resultado é um fluxo de trabalho mais ágil e uma maior capacidade de resposta a mudanças súbitas na procura ou a obstáculos na cadeia de abastecimento. 

As vantagens do nearshoring vão além da proximidade geográfica. Entre os benefícios desta estratégia contam-se a redução significativa dos custos logísticos, uma vez que a menor distância física permite poupar nos custos de transporte e armazenamento, além de acelerar a entrega de mercadorias. Outros benefícios são a facilidade de comunicação que decorre do alinhamento de fusos horários e a flexibilidade operacional, juntamente com a maior compatibilidade cultural e linguística entre os países envolvidos, o que facilita a integração de equipas e promove as relações laborais.  

Os desafios prendem-se essencialmente com a competitividade e a disponibilidade de mão de obra especializada. 

O que é o friendshoring?

A etimologia do termo friendshoring traduz a ideia central da estratégia: a transferência de atividades empresariais, como a produção ou a prestação de serviços, para países considerados aliados ou "amigos", com uma base comum de valores e interesses.  

À semelhança do nearshoring, este modelo surge da crescente complexidade da globalização e dos riscos associados ao offshoring, nomeadamente a dependência de países com regimes políticos instáveis ou culturalmente distantes. Esta abordagem visa estabelecer relações comerciais com países que partilham interesses e sistemas democráticos semelhantes, promovendo uma maior estabilidade e segurança nas cadeias de abastecimento. Embora o conceito de friendshoring tenha emergido de forma mais proeminente nos últimos anos, não é inteiramente novo, surgindo como resposta à crescente incerteza política e socioeconómica resultante de crises globais e conflitos geopolíticos, que afetaram significativamente as cadeias de abastecimento globais. 

Reshoring, uma consequência do aumento dos custos de transporte 

O conceito de reshoring, ou a prática de trazer de volta a produção e os serviços ao país de origem ou a regiões mais próximas, após terem sido transferidos para países com custos mais baixos, tem vindo a ganhar força nos últimos anos. Esta inversão da tendência deve-se a fatores como o aumento dos custos de transporte e os riscos associados a tensões geopolíticas. A pandemia da COVD-19 evidenciou as vulnerabilidades das empresas que dependem de fornecedores à distância. As interrupções no transporte, os atrasos e as tarifas comerciais elevadas aumentaram significativamente os custos. A gestão da cadeia de abastecimento, o controlo de qualidade e as barreiras comerciais, como os direitos aduaneiros, são outros fatores que têm levado as empresas a reconsiderar a viabilidade de manter operações de produção em locais distantes. 

O reshoring tem várias vantagens significativas, sendo uma das mais notáveis a melhoria da flexibilidade e da capacidade de resposta às flutuações da procura. A deslocalização facilita a redução dos prazos de entrega e melhora a capacidade de adaptação às novas condições de mercado. Ao estarem mais próximas dos consumidores, as empresas podem adaptar-se mais rapidamente às suas necessidades. Outra vantagem é a diminuição da pegada de carbono - a proximidade geográfica dos mercados finais significa que as emissões dos transportes de longa distância são reduzidas, o que conduz a uma produção mais sustentável, em conformidade com a crescente procura de práticas empresariais ambientalmente responsáveis por parte dos consumidores.