A mudança de mentalidade que melhorará a reforma das pessoas

André Themudo | BlackRock

Líder dos segmentos de Wealth e Asset Managers na Península Ibérica
Desenvolve relações com gestores de ativos espanhóis, portugueses e de Andorra, bancos privados e de retalho, family offices e plataformas de distribuição. Isto inclui a distribuição de Mutual Funds, Estratégias de Indexação e Soluções de Investimento para clientes de wealth.

Novembro de 2024 por André Themudo

As atuais tendências demográficas comprometem a capacidade dos sistemas de públicos de pensões de permitir que as pessoas vivam uma reforma confortável. Mas os mercados de capitais podem ser a ferramenta e o aliado perfeito para mitigar esse impacto

Larry Fink, CEO e fundador da BlackRock, dedicou a sua carta aos investidores deste ano à necessidade de se repensar a reforma. A carta, que é considerada uma das melhores leituras da indústria, analisa temas de grande relevância para os mercados de capitais, pelo que a escolha da reforma como foco da carta deste ano demonstra a importância que esta questão tem para a BlackRock.
De facto, Larry Fink abordou a necessidade de se repensar a reforma de um ponto de vista muito pessoal, uma vez que utilizou os seus pais como exemplo de uma família tipicamente americana que poderia ter multiplicado por 20 os investimentos realizados no S&P 500 em 1960 se os tivessem recuperado quando se reformaram em 1990.  
Ao analisar o legado dos seus pais, o CEO da BlackRock descobriu que estes se tinham organizado de uma forma tão eficiente que poderiam ter vivido até aos 100 anos sem deixar de viver confortavelmente, graças à utilização que fizeram dos seus rendimentos enquanto trabalhavam. Este é precisamente uma das grandes mensagens que queremos transmitir: as atuais tendências demográficas comprometem a capacidade dos sistemas públicos de pensões de permitir que as pessoas mantenham o seu nível de vida depois da reforma.
No entanto, os mercados de capitais são a ferramenta – e o aliado – perfeito para mitigar este impacto, embora seja importante sublinhar que só começando a trabalhar suficientemente cedo é que o seu efeito se materializa. É por isto que é importante impulsionar os programas de educação financeira que se focam na necessidade de antecipar a idade em que se começa a investir. 

Número de mulheres e jovens investidores tem aumentado 

E é aqui que celebramos os avanços que temos registado na Europa. Recentemente publicamos os resultados do nosso inquérito People & Money, que analisa as principais tendências de investimento na Europa. O que encontramos é muito encorajador: o número de investidores aumentou em praticamente todos os países que participaram no estudo, sendo o Reino Unido, a Alemanha e a França os três mais destacados. 
Embora a história seja positiva, alguns exemplos, como o de Portugal, Itália e Finlândia, os únicos países da amostra em que a base de investidores diminuiu, mostram que ainda há trabalho a fazer. Mas a boa notícia é que grande parte desse trabalho já está em curso, especialmente em termos de trazer para o hábito do investimento segmentos que tradicionalmente não estavam tão ligados ao mesmo, como as mulheres e os jovens. 
O estudo revela que a percentagem de mulheres investidoras aumentou de 26% para 29%, um crescimento especialmente notável quando comparado com o dos homens, que se manteve praticamente estável. Os jovens, por sua vez, representam atualmente 39% do universo de investidores, mas o seu papel deverá aumentar, uma vez que se prevê que a faixa etária dos 18 aos 34 anos represente metade dos novos investidores nos próximos 12 meses.

ETF deverão atrair muitos investidores…

Grande parte deste impulso está a ser conduzido pela expansão dos ETF, produtos que deverão crescer a um ritmo de dois dígitos – em alguns casos, mesmo de três dígitos – em todo o continente. De facto, espera-se que estes veículos atraiam mais de dois milhões e meio de novos investidores na Europa no próximo ano, o que representa praticamente uma quarta parte do total de novos investidores que se irão juntar à indústria no período.  

… mas os fundos de gestão ativa também são importantes na preparação para a reforma.

Esta tendência é muito animadora porque os ETF são produtos que integram na sua própria natureza o investimento a muito longo prazo, que é um dos fatores mais relevantes quando se investe para a reforma. De qualquer modo, é fundamental diversificar as carteiras, tanto em termos de classes de ativos em que se investe como das ferramentas utilizadas para realizar esses investimentos, pelo que os fundos de gestão ativa também têm um papel a desempenhar na preparação para a reforma.
Estes produtos complementam muito bem a eficiência de custos dos ETF, uma vez que oferecem maior potencial de retorno, flexibilidade e gestão de risco, o que permite construir carteiras a muito longo prazo que respondem ao problema que Larry Fink apontou na sua carta: muitas pessoas não desfrutam de estabilidade financeira na sua reforma quando geraram rendimentos suficientes durante a sua vida laboral para evitar essa situação.