Será 2025 o ano em que a IA conquistará definitivamente o mundo?
Abril de 2025 por Ana Carrisso
A inteligência artificial (IA) registou um boom em 2024 que captou o interesse dos investidores. A bolsa norte-americana atingiu máximos históricos, graças, em grande parte, à força das empresas intimamente associadas ao desenvolvimento desta nova tecnologia, como a NVIDIA, a Meta e a Alphabet. Certamente que, após estes 12 meses, muitos de nós já conhecemos alguém que incorporou a utilização da IA na sua vida quotidiana. Talvez até já tenhamos consultado o ChatGPT ou serviços semelhantes. No entanto, para muitos, permanece a mesma questão: até que ponto o desenvolvimento da IA pode transformar as nossas economias e com que rapidez esta inovação transformará radicalmente o nosso ambiente de trabalho?De acordo com a consultora McKinsey, as empresas que empregam a IA nos seus processos podem desbloquear uma oportunidade equivalente a 4,4 biliões de dólares em crescimento da produtividade a longo prazo... mas é mais difícil quantificar os retornos da IA a curto prazo: de acordo com um estudo da consultora, 92% das empresas planeia aumentar os seus investimentos em IA, mas apenas 1% dos líderes corporativos acredita que as suas empresas atingiram a maturidade na utilização da IA (entendida como a integração total das ferramentas de inteligência artificial nos fluxos de trabalho, o que gera resultados substanciais para o negócio). Estas observações levam-nos de novo ao título deste artigo: será 2025 o ano em que a IA conquistará definitivamente o mundo?
IA ainda está a dar os primeiros passos
Pedimos a opinião dos nossos especialistas na edição de 2025 do nosso Inquérito Anual a Analistas e a resposta é contundente: 72% exclui que a utilização da IA tenha um impacto na rentabilidade das empresas este ano. Quando questionados sobre casos específicos em que a IA está a ter um impacto transformador nas empresas que analisam, os exemplos mais citados dizem respeito à automatização de processos em funções de serviço ao cliente ou atividades de backoffice, embora também existam empresas no setor dos bens de consumo básico que a utilizam para otimizar promoções e descontos. Em todo o caso, a maioria das respostas indica que a IA ainda está a dar os primeiros passos.
Do outro lado da balança, embora isto não nos surpreenda, os nossos analistas dizem-nos que cada vez mais setores estão a aumentar o seu investimento em I+D orientada para a IA, sendo que os setores das tecnologias da informação (TI), finanças e serviços de comunicação são os que mais têm intensificado os esforços nesse sentido.
O aparecimento da DeepSeek
Outro elemento importante que pode desafiar as expetativas dos investidores em relação à IA este ano foi o aparecimento da start-up chinesa de IA DeepSeek em janeiro; o seu lançamento mostrou que é possível obter um desempenho equivalente ao dos modelos atuais, como o ChatGPT, a um custo muito inferior. Até então, a opinião predominante era que a corrida para dominar a IA seria liderada pelas empresas mais dispostas a investir mais dinheiro, reduzindo a concorrência a um pequeno número de gigantes da tecnologia dos EUA.
A nossa gestora Tina Tian, gestora do Fidelity Funds China Innovation Fund, escreveu numa nota que, na sequência do “caso DeepSeek”, os investidores estão agora a tornar-se mais críticos em relação às expetativas sobre o atual investimento empresarial em IA, o que, por sua vez, levou a uma revisão das valorizações que redistribuiu as probabilidades sobre quem podem ser os vencedores e os perdedores no desenvolvimento destas tecnologias. “A corrida pela liderança da IA já não é apenas sobre quem tem o melhor chip, mas sobre quem o pode utilizar melhor”, explicou Tina Tian na sua nota.
Em suma, as expetativas dos nossos analistas apelam a uma visão pragmática da realidade, mas sem descansar sobre os louros, uma vez que prevêem um impacto positivo nos lucros das empresas dentro de cinco anos. A forma como o mapa empresarial será reconfigurado até lá é ainda uma incógnita, mas prevêem que os setores com maior potencial de transformação pela IA até 2030 serão a saúde e as finanças. O tempo o dirá, mas não esperem resultados tangíveis espetaculares para o resto do ano.