O impacto do atual regime de política monetária
Julho de 2024 por André Themudo
O atual regime de política monetária: que impacto pode ter no mercado?
Na sequência da pandemia, o mundo sofreu uma grande transformação e entrámos numa nova Era. Este facto não só alterou as normas sociais, como também deixou uma marca clara na economia mundial. A pandemia atuou como catalisador de um dos mais rápidos e agressivos ciclos de subidas das taxas de juro da história recente, em resposta à elevada inflação resultante das dificuldades nas cadeias de produção e da diminuição da mão de obra. Na sequência da crise sanitária, os governos de todo o mundo adotaram medidas de estímulo sem precedentes nas suas economias, com o objetivo de mitigar as consequências financeiras. Isto, por sua vez, alimentou um aumento significativo das taxas de inflação, o que levou os bancos centrais a iniciarem uma trajetória de endurecimento monetário, atingindo os níveis anteriores à crise financeira de 2009.
Novo regime de mercado
Dada a singularidade desta situação, consideramos que nos encontramos num novo regime de mercado, onde as estratégias e conclusões do passado não se aplicam a este novo contexto. Assistimos, agora, a uma maior dispersão tanto no comportamento e resultados das empresas, como nos dados económicos, sendo cada vez mais difícil estimar o crescimento e a inflação. No entanto, esta situação de taxas de juro elevadas não tem impedido o crescimento das economias, conseguindo equilibrar a redução da inflação com a manutenção do crescimento. E este ciclo de subidas de taxas foi diferente de outros momentos do passado, porque tanto as famílias como as empresas se encontravam num estado muito saudável. Nos balanços, os níveis de endividamento eram muito baixos e as famílias tinham rácios de poupança elevados em comparação com a média histórica, depois do acumulado durante a pandemia.
Consequentemente, não assistimos a uma debilidade na componente microeconómica como no passado, e o ciclo de subida das taxas de juro não afetou muito as condições financeiras das empresas e das famílias. No entanto, os últimos anos tem sido muito desafiantes para os investidores, que tentam fazer uma alocação de ativos eficiente num contexto sem precedentes.
A necessidade de se ser ativo
Neste novo regime, acreditamos que é mais importante do que nunca sermos ativos dentro da carteira de investimentos, revendo a nossa alocação de forma periódica e analisando as fontes de risco das mesmas. Os mesmos padrões de retorno e risco do passado não se aplicam a este novo regime e, por exemplo, nos últimos anos, temos visto como as ações e as obrigações se têm deslocado lado a lado na mesma direção. Isto tornou difícil para os investidores encontrarem refúgios em plena mudança de política monetária, em que a maior incógnita era saber até que ponto os bancos centrais iriam aumentar as taxas e quando começariam os cortes.
Este cenário de taxas de juro elevadas colocou em cheque, durante o período de subidas, as empresas cuja atividade depende de fluxos a longo prazo, como o setor tecnológico e segmentos mais sensíveis a condições de financiamento mais duras, como as pequenas e médias empresas. O facto de os ativos livres de risco estarem a proporcionar maiores rentabilidades, coloca em causa a rentabilidade esperada das ações, pelo que os investidores exigiam mais desta classe de ativos, sendo sensíveis às valorizações.
Dinamismo na alocação de ativos
Além disso, as obrigações registaram, durante os últimos anos, um aumento das yields, o que, embora tenha afetado negativamente os investidores que investiram no movimento do preço das obrigações, elevou os atuais níveis para níveis não observados há décadas. Por exemplo, durações elevadas proporcionavam à carteira uma volatilidade invulgar, e encontrámos os mesmos níveis de rendimento nas partes curtas. Por isso, defendemos agora o dinamismo na alocação de ativos, reconhecendo que as regras do passado podem já não se aplicar a este novo regime.
Em suma, consideramos que vamos conviver com uma situação de taxas elevadas durante mais tempo e que as economias não regressarão, a curto prazo, aos níveis de taxas de juro do passado. A inflação continuará a ser persistente, embora controlada, pelo que os bancos centrais manterão as taxas numa posição restritiva durante mais tempo.